O que tenho a oferecer? Muitas vezes me indaguei e sei
que as reflexões podem ser algo tão íntimo que apenas o coração pode ter essa
conexão com Deus, daí se completar nesse momento.
O que é o adeus? Pode significar o fim de tudo, mas,
para quem confia em algo maior o adeus é alguma coisa como a garantia de um até
breve.
E o tempo? O tempo é um amigo que muitas vezes se
demora com um propósito. Ele carrega em si um conforto que deve ser de alguma forma
compreendido com paciência. E ter paciência é de difícil acesso quando a ferida
está aberta.
Por que as noites e os dias se abraçam se fazendo um
só? É necessário, para que a dor e a saudade se alinhem para trabalhar a cura.
As lembranças doem...
O coração se transforma em fúria como ondas de mares
estourando arrecifes. E eu? Continuo sem saber o que dizer para o deserto em
mim.
Olho agora o horizonte, e penso nas expressões que
adocicaram minha vida e me fizeram de certa forma compreender o que queria dizer
o horizonte...
Queria dizer tão bem das observações mas me retraio.
A vida guarda rostos e em cada rosto uma história, uma
paisagem, que se fosse exposta seria definida com risos e aflições... Encontrei nesses horizontes rosas em cima dos montes
que se protegiam dos espinhos, lobos que queriam ser cordeiros e chuvas de
verão que deslumbravam pintando um inverno sem brilho.
Não!
Gritei num tom grotesco e diferente de minha voz
que não era o horizonte claro, nem as estrelas que brilham numa noite de lua
cheia, ou um céu de papel pintado com um lápis que escreve cinzas. A película
deve ser imensidão fazendo um maroto brilho nos olhos e um riso embriagador.
A infância que se esvai e o tempo que segura a dor
para a alma se refazer, pode ser sábio e bom, ou um feitor carrasco. Eu vi a
felicidade cair sem fôlego, afogada pela tristeza. Senti o reerguer da coragem
puxando o último suspiro no jardim secreto que a esperança guardava.
Como se pode julgar uma escolha?
Você pode escolher ir ou ficar, mesmo que não diga uma
palavra.
Então compreendi que há frio e angústia naquele que
precisa tomar decisões, porque não há um jardim que não tenham suas flores ou
ervas daninhas.
Mas, ao entender o horizonte percebo que a brisa que
passa veloz me enfraquece, então consigo compreender porque existe imensidão e
suas fragilidades. Porque há crianças especiais e lábios que se fecham sem
sorrisos. E por mais que tentemos esconder a dor, sem o tempo certo para isso,
o que ela consegue é devorar esperanças.
Ah Céu imenso... me responda por que o que apenas
consigo agora é ver esse horizonte tão cheio de interrogações?
Eu deveria saber as respostas? Deveria?
No entanto sei que vem daí qualquer coisa estrondosa
que me faz respirar fundo e caminhar por cima das pontas de espinhos do jardim
que eu plantei as simples margaridas.
Quem sabe as flores finas fossem para jardineiros
merecedores de um jardim. Eu? Sempre fui tão anônima quanto o anoitecer e o
amanhecer que chegam comuns todos os dias e ninguém consegue realmente percebê-los,
ou decifrar sua importância. Mas eles são especiais, porque todos são
especiais.
No entanto acomodei as pequenas margaridas e todos os
cactos que antes delas souberam crescer no canteiro. Precisamos apenas aprender
a se esquivar dos espinhos. Mas, sempre deixei claro desde o começo o que me
move.
No espelho vejo uma mulher que perdeu as feições de
menina, mas sem saber o que dizer ou escrever para acalmar seu coração. Eles me
pedem escritas e eu me solicito: reaprenda a ajuntar os pedaços dos sentimentos
que estão espalhados pelo chão.
Sabe? Tudo em mim parece ter se quebrado...
O mais o espantoso é que os cacos conseguem mostrar o
que eu não consigo pronunciar. Sei, preciso reagir. Mas o que se pode fazer
quando até as vontades viram fuligem?
E quando eu chamo por esse Deus que amo, mas, que
decepciono todas as vezes que me deixo ser mais fraca que forte. Ele sempre me
faz perceber que nunca saiu daqui. E me diz que está comigo nos meus olhos
marejados, no meu coração ferido, e nas interrogações que faço.
E quando não compreendo suas respostas, ele abraça a
confusão que elas provocam em mim, até que eu compreenda, relembre um sorriso,
uma palavra, uma vivência e tudo se renova, meu ar modifica, meus olhos
brilham, o coração acelera , e dois minutos de uma alegria imensa toma todo meu
ser, e consigo renascer das cinzas de um passado, e modelar na minha essência a
necessidade de que se agora não é já foi, e onde ainda pode brotar a fé. Agora
entendo quando as pessoas dizem: “queria ter sabido o que sei hoje” não é
verdade?
Com certeza teria me poupado muita dor e sofrimento.
Mas, acho que no geral, tudo faz parte dos planos de Deus. E a gente só pode
aceitar. Porque, na realidade, quem comanda é Ele mesmo, e não temos como mudar
isso. Eu tentei. Ele dizia a esquerda e eu ia para a direita, ele mandava desacelerar,
eu pisava fundo. Tentando não ouvir o que Ele dizia. Talvez por isso tenha sido
assim. Tudo tenha acontecido dessa maneira. Uma vez, me disseram que Deus às
vezes usa medidas extremas para circunstâncias extremas. Acho que fui uma
dessas circunstâncias. Às vezes penso, que Deus me fez, dar a volta no
quarteirão só para me levar até o vizinho que se chama (coragem).
Já vi e passei muitas
coisas na minha vida nesta Terra. Já amei, dei risada, chorei, ganhei, perdi.
Posso honestamente dizer que me arrependo de pouco. A estrada tem sido longa
para mim. Te digo uma coisa. Melhor ainda, vou mostrar desde o começo quando a
vida era mais fácil, bem mais ou menos.
Numa história em conta gotas.
Texto e imagem:
Isis carvalho